REFLEXÃO SOBRE PRODUÇÃO DE TEXTO
Aplicação e correção da produção escrita: um
ato repressivo
O temor do estudante pelo ato de redigir começa desde o momento em
que o professor informa o tema para ser redigido, até o instante em que ele
recebe a nota, quando atribuída, e se depara com os traços vermelhos na
correção de seu texto.
O professor indica um tema para o aluno redigir em circunstância
não muito propícia ao ato de redigir: em certas vezes quando não está disposto
para uma aula expositiva; em outras, quando se acha abalado física ou mentalmente,
sem clima para uma aula dita normal, ou seja, sem clima para seu tipo de aula.
Ele lança mão de um tema qualquer que lhe venha na cabeça e pede
para que os alunos façam uma redação; clima para redigir não há, nem tampouco é
preparado, e o tema muitas vezes quase nada diz da realidade do aluno. Assim,
aplicar uma produção escrita tem sido mais em função de algum interesse do
professor do que em função da competência e do desempenho linguístico do aluno.
Como a redação solicitada não foi planejada, não foram traçados
objetivos a serem alcançados, o desastre do ensino da produção escrita se
entende ao processo de correção e avaliação.
Do processo de correção fazem parte os traços vermelhos abaixo das
palavras ou frases julgadas erradas, sem um comentário escrito ou oral que
justifique tal ato. O traço simboliza para o aluno um erro, não importa qual. Para
ele, o que interessa é que está errado e tem que ser assinalado. Qual o erro e
como consertar nem sempre é dito, ainda que se trate de uma variação
linguística, de um ato individual.
O que poderia, então, servir de ponto de partida para o crescimento
cognitivo do aluno serve de elemento repressivo, inibindo o poder de evolução
do conhecimento do código linguístico, o uso do pensamento e, consequentemente,
a fluência da expressão oral.
O outro aspecto inibidor da fluência verbal do aluno é a exigência
de uma certa quantidade de linhas. Ora, além de ter que expressar seu
pensamento acerca de um tema que não lhe provoca interesse, de não lhe ser dada
a oportunidade de ler e debater sobre o assunto, nem mesmo de escolher sobre o
que escrever, além disso tudo, ainda ter que escrever quinze, vinte ou trinta
linhas, é, de fato, esperar que não escreva como deveria.
O cúmulo da exigência sem fundamentação pelo professor atinge até a
estrutura global da redação, mais especificamente a construção dos parágrafos.
É sabido que há professor que ousa
quantificá-los: o primeiro parágrafo para a introdução, o segundo para o
desenvolvimento e o terceiro para a conclusão, como se a paragrafação fosse
determinada por decreto quantificador
do professor e não pela argumentação, coerência e coesão de cada ideia expressa
na produção escrita do redator, nem mesmo pelas suas condições de produção e
intuições linguísticas.
Por outro lado, as regras do jogo da correção não são conhecidas
dos alunos, nem mesmo são debatidas por eles, tornando-se mais um jogo de interesse
pessoal do professor e, muitas vezes, mais uma arma secreta para o processo de
avaliação do aluno. Até parece que “jogar as cartas na mesa“ abertamente poderá
causar uma derrota para o mestre, “esconder o jogo“ parece ser a chave da
vitória do professor no processo ensino- -aprendizagem.
Assim, a nota como resultado da avaliação também representa uma
incógnita, aumentando a tensão do avaliado, o qual mais uma vez fica à mercê do
avaliador. Como consequência, surge a subserviência, prejudicando o clima para
pensamento e para a expressão escrita.
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